O pensamento incômodo e certeiro de Rita Segato sobre o conflito Israel x Palestina

Em Cenas de um pensamento incômodo, edição de ensaios e artigos feitos especialmente para publicação no Brasil, a antropóloga argentina Rita Segato incluiu dois textos sobre a Palestina publicados em jornais do México e da Argentina, há quase dez anos, que antevêem o desenrolar do atual conflito no Oriente Médio, após os ataques terroristas do Hamas. Em ambos, ela condena os massacres na Faixa de Gaza, perpetrados pelo Estado de Israel, instrumentalizado por um projeto de poder colonial do Ocidente, sobretudo de alguns países da Europa e os Estados Unidos.

No texto “O grito inaudível”, a autora antevê: “O ataque de Israel estará fadado a outorgar validade à luta do Hamas. Trata-se de um teorema sociológico”. Isso depois de discorrer sobre o drama dos judeus no Holocausto e lembrar que a resposta dos Estados Unidos aos ataques terroristas da Al-Kaeda, com a invasão ao Iraque e outras medidas, foi desproporcional, antidemocrática, autoritária e inócua – servindo apenas aos propósitos da economia de guerra.

Segato recorre ao pensamento de judeus e intelectuais de todo o mundo, que sempre condenaram os projetos genocidas e lamenta que os povos, dos dois lados, sofrem pelos desvarios extremistas de seus governantes. No texto “‘Somos todas Palestina’: a literalidade insuspeita da consigna”, ela relembra o bloqueio de Israel à Faixa de Gaza, considerada uma prisão a céu aberto, e lamenta que a situação coloca em risco a própria vida dos judeus, em Israel e no mundo:

“Assim, Israel coloca em risco não apenas a grande inteligência judaica – que, devido a sua humanidade despojada de laços e de lealdades militares e estatais, iluminou os caminhos da humanidade desde Spinoza ou mesmo antes –, como também o próprio bem-estar e a sobrevivência do povo judeu, já que, ao que tudo indica, poderá ser perseguido pela ira do mundo mais uma vez; um mundo que não tem critérios suficientes para discernir entre o que é um judeu e o que é uma máfia que opera a empresa avançada do aparelho militar estatal estadunidense.”

Os textos poderiam ter sido escritos na última semana, de tão atuais e certeiros, e refletem bem o título da obra completa de Rita Segato, pois seu pensamento, original e inquietante, toca na ferida, incomoda.

Leia os dois textos aqui

 

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