Zélia Duncan: “Sim, me considero feminista.” – Entrevista para a Bazar do Tempo

Cantora compôs, com Ana Costa, músicas inspiradas no livro Independência do Brasil – As mulheres que estavam lá.

Neste 7 de setembro, dia da Independência do Brasil, as cantoras e compositoras Zélia Duncan e Ana Costa lançam o disco Sete mulheres pela Independência do Brasil, com músicas inspiradas nas personagens do livro Independência do Brasil – As mulheres que estavam lá, publicado em 2022 pela Bazar do Tempo.

Com organização de Heloisa Starling e Antonia Pellegrino, a obra resgata a história de mulheres que lutaram pela Independência do país, desde a Conjuração Mineira até as revoluções que incendiaram o Nordeste, a partir de 1817. São elas: Hipólita Jacinta Teixeira de Melo, Bárbara de Alencar,  Urânia Vanério, Maria Felipa de Oliveira, a baiana Maria Quitéria de Jesus, Maria Leopoldina da Áustria e Ana Lins.

Zélia se encantou com a história do livro quando, numa cerimônia no Supremo Tribunal Federal, ouviu a historiadora Heloisa Starling falar das mulheres invisibilizadas pela história nas lutas de Independência. Decidiu ler e compor, com Ana Costa, uma música para cada retratada na obra, enviada a assinantes do Clube F. em setembro de 2022. Nesta entrevista para a Bazar do Tempo, Zélia conta como se aproximou do feminismo e criou discos em homenagem a mulheres.

Em 2019, você fez um disco com Ana Costa, “Eu sou mulher, eu sou feliz”, e escreveu que a sua vida mudou a partir do momento em que passou a olhar para a “condição das mulheres”. Como foi esse processo? Você hoje se considera feminista?

Isso se acirrou na campanha eleitoral de 2018, mas quando conheci Márcia Tiburi, comecei a ler mais sobre o assunto, inclusive livros dela. Depois entendi que o feminismo mais importante é o feminismo negro e parti para Angela Davis, Grada Kilomba e bel hooks. Comecei a ir pra rua, para as passeatas, comecei a entender onde tudo me atingia como mulher e LGBTQIA+. Sim, me considero feminista.

Como surgiu a vontade de escrever sobre as mulheres retratadas no livro “Independência do Brasil – As mulheres que estavam lá?” Você fez alguma pesquisa extra para compor as músicas, ou se baseou nos textos mesmo? Como foi a troca com a Ana Costa?

O contato com Heloísa Starling tem sido decisivo também, na minha iniciativa de participar e aprender. Minha pesquisa foi ler o livro Independência do Brasil, as mulheres que estavam lá. Ana Costa é parceira de momentos muito importantes pra mim, uma compositora sensível e talentosa, uma cantora de timbre singular. Eu pedi que lesse o livro e ficamos na mesma sintonia.

Em 2004, você gravou um CD e depois um DVD com o repertório de cantoras como Elizeth Cardoso, Araci de Almeida e Silvia Telles, entre outras. Mas havia um desejo também de homenagear os compositores das músicas. Já ali acendeu alguma luzinha sobre a “condição” das mulheres na música? Você já estava olhando para o trabalho delas sob esse viés, digamos, mais feminista?

A gente se encaminha pra pessoa que queremos ser todo dia, até sem muita consciência, não é? Sim, eu já estava olhando pra nós todas, isso foi ficando cada vez mais profundo.

Por fim, como é sua relação com a literatura? Em 2018, você escreveu um posfácio para o livro de crônicas da Hilda Hilst. Lançou um livro recentemente. Tem mais coisas na gaveta? Quais são as suas referências literárias?

Literatura pra mim é mais importante do que música, se é que posso fazer essa distinção! Na minha casa sabemos poemas de cor e a leitura sempre foi cultuada. Poesia parnasiana, por causa do meu avô, depois saí atrás de Drummond, Pessoa, Bandeira, Hilda, Leminski, chegando em Gonçalo Tavares e Ana Martins Marques. A prosa preciosamente poética de Conceição Evaristo. Baldwin, Murakami, fui misturando tudo e nunca vou parar.

Ouça o novo disco de Zélia Duncan:

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