João Pedro e George Floyd, por Cidinha Silva

João Pedro e George Floyd
Cidinha da Silva
Eles têm compulsão e gozo pelo jorro do nosso sangue. Eles não nos deixam respirar, quebram nosso pescoço e se regozijam com nossa dor. Eles atiram em nossos meninos rendidos dentro de casa, pelas costas.
Eles fazem publicidade do genocídio como mecanismo de controle, de domesticação dos corpos negros-alvo.
Eles nos matam por prazer e sadismo, investidos da condição de heróis, exterminadores do inimigo gestado nos porões de seu imaginário branco, podre e encurralado.
Nós emudecemos. O abate tem mesmo essa função, é diuturno, imparável, incansável, é disparado de todas as direções em nossa direção.
Nós portamos um alfanje para incisões precisas e profundas, uma cabaça com ervas para cuidar da úlcera, punhados de pólvora e sabedoria para fazer fogo, para explodir em fogo esse mundo que nos aniquila.
Nós somos búfalos, uma manada de búfalos. Nós temos a força que faz o leão chorar, e o esmaga, feito barata.
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Cidinha da Silva é escritora, autora de “Parem de nos matar!” (Kuanza Produções / Pólen, 2019), “Um Exu em Nova York” (Pallas, 2018), entre outros livros.
Texto escrito em 28 de maio de 2020.

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