(“I CAN’T BREATH”)
Tatiana Nascimento
um suspiro que atravesse
a pandemia, a distância,
o medo, o trauma,
o pânico ancestral do
pretocídio en tor nan do
nossos nomes em bandeiras
hasteadas como Eguns que mais
não dançam, nem bendizem, só vão
embora
emb…
ê!
pretidão
pretidão acesa
preditão acesa que eles
tentam / apagar/am / (m)eu peito
tem uma chama igualmente es
cura y brilhante que bebe
ar no que essa noite
ilumina
de lua rindo
frouxo eu
aqueço
uma vela
y acendo mais
um pouco o
sonho
de que olhos
tão pretos vivam
em paz caminhem
em paz fumem um
em paz sonhem
em paz comam
em paz amem
demais
y durmam
tranquiles…
(nossa paz
é que eles
extermina)
y
só
dissipem
quando for na
sagrada hora do Orun
(que aqui a
lei de branco,
profana sempre,
quer roubar o ar
que Oyá nos
concedeu
divina).
[pra marcus, que segue sorrindo]
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Tatiana Nascimento é poeta, tradutora, compositora, cantora e pesquisadora em literaturas da diáspora negra sexual-dissidente. É doutora em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); licenciada em Letras – Português pela Universidade de Brasília (UnB); professora voluntária na UnB; editora-co-fundadora da Padê editorial, que publicou desde sua fundação, em 2016, mais de 50 títulos de autoras negras e/ou lésbicas em livros artesanais; é idealizadora e realizadora da Semilla – Feyra de Publicadoras; co-fundadora e realizadora da Palavra Preta – Mostra Nacional de Negras Autoras; idealizadora da Quanta! Mostra de Artistas LBTs do DF; integrante do Coletivo de Escritorxs da Literatura LGBT do DF; idealizadora, co-fundadora, realizadora do primeiro Slam das Minas nacional (o de brasília/DF!); criadora do portal www.literatura.lgbt
Traduziu para a Bazar do Tempo três livros de poesia de Audre Lorde, que, reunidos, serão lançados em agosto de 2020, com o título “Entre nós mesmas”.