Filmes para cinéfilos em quarentena
João Lanari Bo, autor de Cinema para russos, cinema para soviéticos, preparou um caminho das pedras para os cinéfilos em quarentena. Que tal dar uma pausa na série e mergulhar na história através do cinema?
Enfrentar o confinamento contemporâneo causado pelo coronavírus pode ser uma oportunidade de revisitar clássicos do cinema disponíveis gratuitamente na internet. O que era um tesouro oculto nas cinematecas, torna-se, com a web, manancial de lazer acessível aos mortais, em dois ou três cliques, graças (mas não exclusivamente) ao Youtube – um domínio razoável de línguas estrangeiras, sobretudo inglês e espanhol, sempre ajuda, naturalmente.
Se o leitor quiser assistir à primeira partitura de Dmítri Chostakóvitch no cinema, por exemplo, encontra uma cópia restaurada da dupla soviética Traueberg & Kozintsev, “The New Babylon”, de 1929.
Ainda há muito mais sobre o cinema russo/soviético na rede. Contando com legendas em inglês que almas caridosas organizaram para o resto do planeta (algumas vezes a tradução ainda está um pouco caótica, mas espectadores valentes vão até o final), temos um canal com variedade de ofertas, que se autointitula “Playlist Soviet and russian movies with eng subtitles“. São 270 títulos, gratuitos! E para quem quiser aceder a uma lista mais atualizada, e dispondo-se a pagar (mas com direito a fazer download) temos a Soviet Movies, com uma seleção caprichada, inclusive russos contemporâneos.
Para os cinéfilos obsessivos, há que se destacar o blog Cine Soviético, feito por um espanhol que residiu em Moscou (as postagens pararam, mas o site – um conjunto de informações e links para clássicos dos anos 1910 e 1920 simplesmente inacreditáveis – continua no ar).
Para encerrar, menção ao brasileiro SP Cine Play, iniciativa louvável do governo paulista que oferece fantástica seleção de filmes brasileiros, de Andrea Tonacci a Helena Ignez e Ana Carolina. Isso tudo sem abdicar do produto estrangeiro de qualidade: desde 26 de março, começou a exibir em streaming gratuito a série documental francesa “A Herança da Coruja” (L’Héritage de la Chouette, 1989), do grande Chris Marker (1921-2012). Em versão restaurada, a série discute em treze episódios, a partir de treze palavras incorporadas ao vocabulário moderno, o legado cultural e político da Grécia clássica para o mundo contemporâneo. E mais:
Cinema Argentino
Um notável caso de visão estratégica e preocupação com o consumidor é o site www.cine.ar, que oferece filmes argentinos, de todas as épocas, de graça – sim, de graça, bastando apenas um registro simples do usuário. O site é mantido pelo INCAA (Instituto Nacional de Cine y Artes Visuales) e pela ARSAT – Empresa Argentina de Soluciones Satelitales. Não tem todo o cinema argentino – como se sabe, de alto nível artístico – mas conta com um acervo fantástico. Por que não acontece algo semelhante no Brasil é a pergunta que não quer calar, levando-se em conta que aqui, como no país de los hermanos, a produção em sua grande maioria foi de alguma forma subsidiada, seja Embrafilme, lei do audiovisual, etc.
Quase 1200 filmes gratuitos
Quem garimpar na internet – não apenas no youtube, mas também nas plataformas Daily Motions e Mubi.com, que exigem algum tipo de registro e eventualmente algum pagamento módico, ou ainda no gratuito Open Culture, que conta com uma seção de “free movies” de mais de 1.150 filmes! – certamente vai descobrir como driblar o tédio com muita desenvoltura.
Conheça o livro Cinema para russos, cinema para soviéticos, de João Lanari Bo.
Leia mais sobre o livro na resenha de Maria do Rosário Caetano, na Revista de Cinema.