"Corona", poema de Paul Celan

Corona  (1948)
Paul Celan
Da minha mão o outono devora a sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o deixamos partir:
O tempo torna de novo à casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca fala com verdade.
O meu olhar desce até ao sexo dos amantes:
nós nos olhamos,
nós dizemos algo obscuro,
nós nos amamos como papoula e memória,
nós dormimos como vinho nas conchas,
como mar no brilho-sangue da lua.
Nós ficamos abraçados à janela, nos vêem da rua:
é tempo que se saiba!
É tempo que a pedra se conforte em florecer,
que ao desassossego palpite um coração.
É tempo que o tempo venha a ser.
É tempo.

Tradução de Marcia Sá Cavalcante Schuback

Corona (1948)
Paul Celan
Aus der Hand frißt der Herbst mir sein Blatt: wir sind Freunde.
Wir schälen die Zeit aus den Nüssen und lehren sie gehn:
die Zeit kehrt zurück in die Schale.
Im Spiegel ist Sonntag,
im Traum wird geschlafen,
der Mund redet wahr.
Mein Aug steigt hinab zum Geschlecht der Geliebten:
wir sehen uns an,
wir sagen uns Dunkles,
wir lieben einander wie Mohn und Gedächtnis,
wir schlafen wie Wein in den Muscheln,
wie das Meer im Blutstrahl des Mondes.
Wir stehen umschlungen im Fenster, sie sehen uns zu von der
Straße:
es ist Zeit, daß man weiß!
Es ist Zeit, daß der Stein sich zu blühen bequemt,
daß der Unrast ein Herz schlägt.
Es ist Zeit, daß es Zeit wird.
Es ist Zeit.

Paul Celan foi poeta, tradutor e ensaísta romeno de língua alemã, nascido em 1920. Radicado na França, morreu em Paris, em 1970.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site usa cookies para lhe oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar neste site, você concorda com o uso de cookies.