Um Clube F. (de leitura) todo nosso

Com Claudia Lamego

“Ler mudou, muda e continuará mudando o mundo”, escreveu Virginia Woolf em seu ensaio “A paixão da leitura”. Num texto curto, porém acurado, a escritora inglesa discorre sobre o ato de ler explicando como devemos nos comportar diante de nossas prateleiras abarrotadas. Antes de tudo, um aviso: ler é uma atividade complexa e requer algumas obrigações. Eu diria pactos. Vamos a eles.

“Para começar, devemos nos sentar no banco dos réus e não na poltrona dos juízes”, vaticina. Isso significa ler com a autora, ser cúmplice no ato de criação da obra. Com isso, esquecer nossos preconceitos e visões, nos deixar ser confrontadas com as ideias e universo daquele livro. Para Virginia Woolf, grandes obras nos torcem, retorcem e nos jogam violentamente para um lado e para outro.

A segunda regra é, aí sim, terminada a leitura e o prazer (ou ódio que ela proporcionou), analisar, criticar, comparar o livro com outros já lidos e formar a nossa opinião – talvez até confrontá-la com a da crítica feita em resenhas.

Mas e depois? Para que ler e acumular livros pela casa (quartos, cozinhas, salas de estar, bibliotecas)? Segundo a autora, para tornar possível a continuidade da criação e estender o prazer da leitura, que torna o mundo um lugar habitável.

Em seus ensaios, resenhas literárias, diários, cartas, contos e romances, Virginia se mostrou não apenas uma escritora prolífica, mas uma leitora afiada, sempre fiel à ideia de que a leitura não pode aprisionar, mas abrir caminhos para desbravar e pensar o mundo. Foi assim que se tornou uma referência para a escrita das mulheres e o feminismo, quando lançou o ensaio seminal Um quarto só seu, livro inaugural do Clube F. da Bazar do Tempo, lançado em março de 2021, com tradução de Júlia Romeu.

É com as ideias de Virginia, nossa maior inspiração, que inauguramos também o Clube F. de Leitura Todo Nosso, um espaço para conversarmos sobre as obras lançadas no clube. Ele será mensal, com dia fixo e uma programação anunciada com antecedência.

Nos encontros, vamos fazer como Virginia prega em seu ensaio: ser (ou nos tornarmos) leitoras comuns, ou seja, aquelas que procuram nos livros conhecer novos mundos, novos personagens, novos jeitos de experimentar a vida. A leitura de cada um importa e, compartilhada em grupo, faz o livro não ser apenas bom ou ruim, mas se tornar uma nova experiência, que se juntará a novas leituras e nos fará compreender melhor o nosso tempo.

Veja abaixo os livros, datas e horários e programe-se. Vem com a gente, assinante!

Janeiro: A dissociação, de Nadia Yala Kisukidi (Trad. Mirella Botaro e Raquel Camargo)
Data: 21
Horário: 19h

Fevereiro: Febre de carnaval, de Yuliana Ortiz Ruano (trad. Larissa Bontempi)
Data: 18
Horário: 19h

Março: No muro da nossa casa, de Ana Kiffer
Data: 18
Horário: 19h

Abril: Susan Sontag, A entrevista completa para a Rolling Stone (Trad. Paula Carvalho)
Data: 20
Horário: 19h

Maio: Eros, o doce-amargo, de Anne Carson (Trad. Julia Raiz)
Data: 19
Horário: 19h

Junho: A obrigação de ser genial, de Betina González (Trad. Silvia Massimini Felix)
Data: 23
Horário: 19h

Julho: Para além das margens, de Isabela Discacciati
Data: 21
Horário: 19h

*Cláudia Lamego é mestranda em Literatura pela Universidade Federal Fluminense. Jornalista, editora e mediadora de leituras, participa do Clube F. da Bazar do Tempo desde a sua concepção, em 2021. É mediadora de leituras da Livraria Janela, do Instituto Italiano de Cultura e do clube de poesia do Círculo de Poemas, na Livraria da Travessa. Faz também mediação de lançamentos de livros, em feiras e bienais. É apaixonada pelo Clube F., por literatura escrita por mulheres e, em especial, por Virginia Woolf e Elena Ferrante.

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