Três poemas de Paul Éluard
Seus olhos sempre puros
Dias de lentidão, dias de chuva,
Dias de espelhos quebrados e de agulhas perdidas,
Dias de pálpebras fechadas para os horizontes dos mares,
De horas iguais, dias de cativeiro.
Meu espírito que ainda brilhava sobre as folhas
E as flores, meu espírito está nu como o amor,
A aurora que ele esquece o faz baixar a cabeça
E contemplar seu corpo obediente e vão.
No entanto, vi os mais belos olhos do mundo,
Deuses de prata que seguravam safiras em suas mãos,
Deuses verdadeiros, pássaros na terra
E na água, eu os vi.
Suas asas são as minhas, só existe
Seu voo que sacode minha miséria,
Seu voo de estrela e de luz
Seu voo de terra, seu voo de pedra
Sobre as ondas de suas asas,
Meu pensamento sustentado pela vida e pela morte.
Jogo de construção
O homem foge, o cavalo cai.
A porta não pode se abrir,
O pássaro se cala, cava sua cova,
O silêncio o faz morrer.
Uma borboleta no galho
Espera pacientemente o inverno,
Seu coração é pesado, o galho se inclina,
O galho dobra como um verme.
Por que chorar a flor já seca
E por que chorar os lilases?
Por que chorar a rosa de âmbar?
Por que chorar o pensamento terno?
Por que buscar a flor escondida
Se não temos recompensa?
– Mas por isso, isso e isso.
Nudez da verdade
O desespero não tem asas,
Nem o amor,
Não têm rosto,
Não falam,
Não me movo,
Não os vejo,Não falo com eles
Mas sou tão vivo quanto meu amor e meu desespero.
Poemas do livro “Capitale de la douleur”(1926). Tradução de Eduardo Jardim.