Dois poemas de Tatiana Nascimento
Taipa (o big-bang do criacionismo)
curar não significa nunca mais
vai doer,
feliz não significa nunca mais
vai chorar
ser forte não é rigidez
(aquebrantável; tem alguma coisa,
na fragilidade, pra se
aprender)
matéria é uma casa que habita a gente no
finito da jornada. mesmo que cimento
prometa eternidades, é de mariô y
barro a lembrança da acolhida
(palha, ou clorofila morrida, y
tecnologia de terra muito molhada
que a primeira deusa, velha, lenta, macerou)
perfeição é o nome de um deus:
botamos pra morar na nossa
falha. a gente é nada mais
que poeira das colisões estelares,
a gente, poeira de toque e o
dissolver as estrelas:
um registro do fim
um pedaço do nada
um silêncio de vácuo
a memória do brilho, do
brilho
y saudade
do infinito.
no funfun sagrado,
Onira pe(r)de o agô
do Velho y si des
(d)enha paz
[y diz
faz] ___
Tatiana Nascimento é poeta, tradutora, compositora, cantora e pesquisadora em literaturas da diáspora negra sexual-dissidente. É doutora em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); licenciada em Letras – Português pela Universidade de Brasília (UnB); professora voluntária na UnB; editora-co-fundadora da Padê editorial, que publicou desde sua fundação, em 2016, mais de 50 títulos de autoras negras e/ou lésbicas em livros artesanais; é idealizadora e realizadora da Semilla – Feyra de Publicadoras; co-fundadora e realizadora da Palavra Preta – Mostra Nacional de Negras Autoras; idealizadora da Quanta! Mostra de Artistas LBTs do DF; integrante do Coletivo de Escritorxs da Literatura LGBT do DF; idealizadora, co-fundadora, realizadora do primeiro Slam das Minas nacional (o de brasília/DF!); criadora do portal www.literatura.lgbt
Traduziu para a Bazar do Tempo três livros de poesia de Audre Lorde, que, reunidos, serão lançados em agosto de 2020, com o título “Entre nós mesmas”.