UM CERTO VIÉS DE LUZ
Emily Dickinson
Um certo viés de luz, o aceso
Inverno de tardes e horas –
Que oprime, como o peso
De catedrais sonoras.
Celeste ferida, doação
sem encontrar nenhuma cicatriz
mas interna diferença
onde os sentidos, estão.
Nada pode ensiná-lo – ninguém –
É selo desesperado –
Uma imperial aflição –
De um envio aerado.
Quando vem, a paisagem escuta
Sombras – seguram o seu respirar –
Quando vai, é como a distância
Na visão da morte sem ar.
RESPIRA, TU, INVISÍVEL POEMA
Rainer Maria Rilke
Respira, tu, invisível poema!
Continuamente cercando o próprio ser
Puro espaço de mundo. Estratagema
onde eu ritmicamente sou um acontecer.
Onda única, o seu dar
Em mar devagar eu sou;
o mais contido tu de todos os possíveis mares, –
Um ganho que espaçou.
Quantos desses lugares de espaços já estavam ali
dentro de mim. Alguns ventos
são como meu filho.
Me reconheces, tu, ar, ainda cheio de meus antigos ermos?
Tu, uma vez lisa casca de eventos
Redondeza e folha de meus termos.
(Poema da série Sonetos a Orfeu)
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Rainer Maria Rilke nasceu em Praga, em 1875. Em 1894 publica seu primeiro trabalho: “Vida e canções”, uma coleção de versos de amor. Em 1900, “Histórias do bom Deus” e, em 1905, “o Livro das Horas, que obtém grande atenção já na época. Trabalhou como secretário de Rodin, escultor que exerce grande influência sobre seu trabalho. Em 1913, publica a “A vida de Maria” e começa a escrever “Elegias de Duíno”, que viria a ser publicado em 1923. Um de seus livros mais conhecidos, “Cartas a um jovem poeta”, foi publicado postumamente, em 1929.